varal de enforcados

contribuição dramática e intensa de Leo Lama (Ô Leo Lama!)
foto by não sei de quem outra vez
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira. A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta. Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo. Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado.
Fragmento de "Para Maria da Graça", de Paulo Mendes Campos

2 Responses
  1. robert prya Says:
    Este comentário foi removido pelo autor.

  2. robert prya Says:

    espantar-se é uma maneira de reavaliar o que temos em mente. na maioria das vezes nos espantamos com coisas que não vemos normalmente, mas não é "justo" para o que recebe o sobrenome de espantoso ser classificado desta forma. aliás, as vezes deveriamos ficar espantados com atrocidades cometidas pelo mundo real, um mundo que não é tão real porque vivemos nele imaginando um lugar melhor no futuro, só que por que não paramos e nos questionamos? por que não mudar este, ao invés de ficar esperando algo perfeito? só que essa mudança não acontece externamente, não de fora para dentro e sim, aí dentro. o que está lá fora é um resultado do que está dentro de nossos pensamentos, sei que é difícil de aceitarmos esta culpa, mas ela existe, e a única maneira de mudarmos é aceitando-a primeiramente.

    não estique demasiadamente o varal se não, ele arrebenta.

    beijão vanu. prya para toda uma vida.