Não é varal mas algo está pendente...


Santa Catarina vive tempo de recomeçar

Estado está diante de mais uma chance de comprovar sua capacidade de superar obstáculos.

Sem ter onde morar, Isabel e os filhos foram abrigados em motel de beira de estrada perto da casa destruída. Histórias como a dela repetiram-se outras vezes, em municípios diferentes, onde muitas pessoas perderam familiares, amigos e vizinhos durante a enxurrada. Até a noite de sexta-feira estavam contabilizadas 120 mortes, mas há pelo menos 30 desaparecidos, acredita a Defesa Civil do Estado. Ao mesmo tempo que aumentava o número de vítimas e perdas ao longo das últimas duas semanas, multiplicavam-se com a mesma rapidez os atos de solidariedade, vindos de todos os cantos do Brasil e até do Exterior. Isabel e sua família acreditam que agora chegou a hora de reconstruir. De erguer a cabeça, arregaçar as mangas e olhar para o futuro. A palavra “recomeçar” faz parte do vocabulário de todos – população, prefeitos, empresários, comerciantes e até mesmo de quem perdeu tudo e não tem nem para onde ir. Um misto de coragem, determinação e fé no futuro move milhares de catarinenses. E exemplos desse povo, que insiste em responder com trabalho à fúria da natureza, não faltam: – Abatidos, sim. Derrotados, jamais! – ensina Casemiro Michalach, 56 anos. Ele já tirou a lama da casa, no Distrito do Garcia, na região sul de Blumenau, e reabriu a serralheria que fica ao lado da residência e de onde tira o sustento da família. – Em vez de cruzar os braços e lamentar, as pessoas devem arregaçar as mangas e trabalhar mais. Se antes eu passava oito horas na oficina, agora ficarei 10, 12 horas até recuperar tudo o que perdi – comenta. Também em Blumenau, o pipoqueiro Marcos Amorim lamenta a destruição total da casa de alvenaria que ele próprio construiu, com a ajuda da mulher Cleusa. Era tudo o que ele deixaria para os dois filhos. Porém, ao mesmo tempo em que enxuga uma lágrima, confessa: – Apesar de tudo, agradeço a Deus todos os dias por não ter me tirado o mais importante: minha mulher e os filhos. O resto, a gente constrói novamente. Braço forte não me falta – anuncia, orgulhoso de sua força de vontade. A artesã Vanessa Benevenutti, 22 anos, tem uma prova da violência da enxurrada na frente de casa na Rua Araranguá, também no Garcia: um buraco capaz de engolir cinco pessoas. Mas não se abate, e diz que o trabalho será antídoto contra as perdas. Mais do que recuperar as casas e ruas destruídas pela enxurrada, os catarinenses precisam, neste momento, reconstruir suas vidas. E este é o maior desafio da população: retomar, tanto quanto possível, a normalidade. Um dos exemplos é a própria prefeitura de Blumenau, que já exibe sua tradicional decoração de Natal. Não é tarefa fácil, tal a intensidade dos prejuízos. Porém, se é a grandeza de uma tarefa que lhe empresta nobreza, Santa Catarina está diante de mais uma chance de comprovar sua capacidade de superar obstáculos.
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